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1) Ecologias de Projeto: métodos e processos

Há em curso um processo acelerado de informatização dos meios técnicos com reflexos diretos nos modos de produção do conhecimento e do espaço arquitetônico. Os processos de projeto contemporâneo vêm adotando complexos repertórios operativos de base digital cuja aplicação traz impactos determinantes no modo de se conceber e fabricar a arquitetura. Sejam em contextos locais ou globais, em soluções compactas ou de escala urbana, métodos de projeto digitais de bases paramétricas, algorítmicas, generativas abrem novos campos de investigação de soluções para problemas complexos e preementes como a necessidade de maior coerência na integração dos sistemas artificiais e naturais.

Este projeto de pesquisa tem como objetivo analisar, discutir e propor alternativas de uso e aplicação dos recursos digitais na concepção, fabricação e configuração de projetos que nos permitam atender demandas específicas de aprimoramento dos construtos humanos sob a ótica da integração ambiental, da viabilidade social, e econômica, da coerência construtiva e da melhoria da experiência de espaços e da cidade. Seja em termos metodológicos (dimensões táticas) ou processuais (dimensões técnicas), esta linha de pesquisa abre-se para a investigação do potencial dos recursos digitais para a atualização da arquitetura frente à complexidade dos problemas atuais.

Para fundamentar as pesquisas e as investigações tecnológicas, consideramos os princípios teóricos da teoria dos sistemas e das redes, dos estudos de complexidade, da cibernética, da ecologia e da arte, que abordam noções como o compartilhamento, colaboração, abertura, interatividade, adaptação e reprogramação. Em meio a estas noções, emanam movimentos e abordagens projetuais de código-aberto (opendesign), de inspiração nos sistemas naturais (biomimética), com foco na autonomia (makers), na integração (spatial agency), que juntos compõem um importante e renovado campo de reflexão e ação da arquitetura.

Esta linha de pesquisa abre-se para o entendimento destas novas epistemologias de projeto que são em grande parte potencializadas pelas linguagens digitais como campo de virtualização do saber, do fazer e do experienciar arquitetura. A este conjunto de iniciativas e abordagens renovadas de apropriação dos recursos digitais em projetos de arquitetura denominamos Ecologias de Projeto.

 

2) Prototipagem digital e interatividade em projetos de arquitetura

Dentro da área de concentração Projetos e Tecnologia em Arquitetura e Urbanismo, esta linha de pesquisa busca desenvolver protótipos experimentais de componentes, equipamentos e sistemas estruturais para projetos de arquitetura e urbanismo, utilizando recursos avançados de modelagem computacional, fabricação digital e interatividade.

Esta linha de pesquisa tem como objetivo desenvolver soluções práticas para problemas de projeto e dar continuidade a um modelo de aprendizado experimental, aplicado, ascendente e colaborativo em ambiente laboratorial, aos moldes de um FabLab. Os processos de trabalho adotados se inspiram na colaboração, na cultura do código-livre, no desenvolvimento coletivo e democrático de ideias e projetos, na troca de experiências entre profissionais de diferentes formações e níveis, desde alunos iniciantes até profissionais experientes, cada um deles com sua bagagem pessoal e foco de interesse.

A metodologia de trabalho utilizada encontra-se baseada na Design Science Research (Van Aken, 2004), e consiste em um modelo efetivamente direcionado ao projeto de soluções eficazes para problemas existentes. Trata-se de uma abordagem de caráter não descritiva-explicativa, mas prescritiva, ou seja, é mais pragmática, normativa e sintética, baseada em experimentações práticas, testes e simulações.

 As vantagens oferecidas pelos processos de fabricação digital se encontram no fato de que arquitetos e projetistas tem melhores possibilidades de produzir e testar suas criações por meio de protótipos de alta complexidade, com custos reduzidos e grande margem de variação, customização e ajuste. O acesso às máquinas de prototipagem digital e recursos de automação incentivam a inventividade e a criação por meio de sucessivos ciclos de experimentação. Além disso, fomenta a produção de conhecimento a partir da síntese de informações disponibilizadas na internet, que podem ser livremente apropriadas e inseridas em novos contextos e narrativas. Trata-se portanto de um comportamento que exerce um pensamento global associado a uma produção local. Temos a convicção de que cada dia mais os avanços científicos devem almejar uma melhoria direta na realidade das pessoas, em especial as mais vulneráveis e em situação de risco. Oferecemos aqui um espaço democrático para o livre desenvolvimento de projetos com o suporte operacional necessário para que saiam do papel.

Pensar global agir local

Neil Gershenfeld destaca entre as qualidades mais significativas da cultura maker e dos recursos de fabricação digital é o potencial de acessar informações de alta complexidade em bases de dados globais, trabalhá-las sob demandas específicas e produzí-las em escala local com o auxílio de equipamentos de prototipagem rápida como impressoras 3D e máquinas de corte a laser ou fresadoras.

Sistemas Bioinspirados

Nos termos de Janine Benyus, a biomimética é uma abordagem de projeto inspirada nas morfologias e nos comportamentos dos sistemas vivos cujo foco não se coloca no que nós podemos extrair da natureza, mas ao contrário, no que podemos aprender com ela. Seus processos incluem observar e replicar morfologias, fenômenos, processos, materiais e arranjos presentes nos organismos naturais.

Adaptar e evoluir

Diante da crescente complexidade dos problemas de projeto, seja em escala de objetos ou cidades, a capacidade de adaptação e evolução é mais que uma demanda, mas uma necessidade. Para isso, projetos devem ser concebidos a partir de estruturações flexíveis, capazes de acomodar variações e ajustes à medida em que eles aconteçam. E pode ter certeza: eles vão acontecer.

Inteligência coletiva

Vivemos hoje uma redistribuição da configuração do saber. Para Pierre Lévy, a inteligência coletiva é uma inteligência distribuída, que implica num arranjo coordenado de singularidades visando mobilizar competências e descentralizar o conhecimento. Esta ecologia cognitiva é constituída pelas complexas redes digitais que aproximam as mentes humanas e definem uma "mente" comum.


Aprender Fazendo

A inteligência projetual contemporânea opera sobre um campo ampliado de possibilidades processuais, metodológicas, impulsionadas pelos múltiplos recursos de software, hardware e pelo desdobramentos tecnológicos da cultura digital. Acreditamos que a produção do conhecimento projetual e o posicionamento de arquitetos diante de situações-problema complexas demanda uma tática de hibridação contínua entre reflexão e ação, pensamento e prática, concepção e prototipagem.

Nossa visão do projeto e da pesquisa

Tanto o projeto e a pesquisa são vistos como processos centrados-na-ação, metodologia dedicada à produção de conhecimentos a partir de um enfrentamento constante entre idealização e experimentação. Neste sentido, projeto e pesquisa estão intimamente vinculados e agem de modo complementar e interdependente. Para dar suporte às reflexões processuais é essencial territorializar o pensamento em protótipos experimentais passíveis de teste, sejam eles objetos físicos construídos com tecnologia de fabricação digital, ou ainda interfaces interativas elaboradas com repertórios de programação e código.

As redes digitais de computadores constituem o suporte operacional para a inteligência coletiva. Seja em um processo de projeto ou no desenvolvimento de uma pesquisa, os ciclos contínuos de reflexão-e-ação não ocorrem apenas no âmbito particular do arquiteto, mas pode transitar por toda a rede e a partir dela se reorganizar e evoluir. Entendemos que o pensamento contemporâneo é socialmente distribuído. Ele é formado por um coletivo pensante dinâmico povoado por singularidades sincronizadas, algo que Pierre Lévy define como um ecologia cognitiva.

A noção de ecologia cognitica busca por em evidência esse modelo de cooperação, proximidade, interdependência, que permite o compartilhamento de idéias, estruturas-base, propostas e iniciativas de ação. As redes digitais são os suportes essenciais da ecologia cognitiva e, portanto, essenciais para uma forma renovada de reflexão-e-ação no mundo atual.


Referências

Nossas idéias e ações estão alinhadas com os princípios metodológicos da reflexão-em-ação apresentados por Donald Schön, ao pensamento nômade que se refaz a todo instante das reflexões Gilles Deleuze, ao campo relacional da ecologia cognitiva abordada em Pierre Lévy, ao ecossistema artístico da pós-produção inscrito nas obras de Nicholas Bourriaud, à liberdade e hibridismo tático das práticas ad hoc tratadas em Charles Jencks e Nathan Silver, aos riscos criativos e performáticos da arte do jazz modal fundidas na obra de Miles Davis, ao conhecimento mútuo e compartilhado presentes no pensamento de Anthony Giddens, acompanhado pelas inspiradoras considerações de Bergson sobre o conhecimento intuitivo, atualizados nas correntes de pensamento tecnológico do código-aberto, das práticas do-it-yourself, pelo improvisação conectada à inovação, alimentadas pela inteligência distribuída, ecologias cognitivas e lógicas paramétricas.

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Pra refletir

"Sou mais favorável à vitalidade desordenada do que à unidade óbvia."

Robert Venturi - Complexidade e Contradição em Arquitetura