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Outros artigos do Prof. Bruno Massara Rocha
   

MOVIMENTO METABOLISTA

Bruno Massara Rocha

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Introdução:

O Movimento Metabolista surgido no Japão em meados da década de 1960 do século XX teve como um de seus grandes idealizadores o arquiteto Kenzo Tange que, a partir de um olhar atento à crise concernente à falta de territórios para a expansão das megalópoles japonesas, buscava através da arquitetura, das grandes infraestruturas, dos grandes recursos de engenharia e de um ideal de intervenção em megaescala, respostas projetuais possíveis. A alternativa imediata à qual se dedicavam os arquitetos metabolistas japoneses consistia na inevitável ocupação dos oceanos enquanto interface para a construção de uma "nova civilização". Muitos projetos foram desenvolvidos com este horizonte como emblemático Planejamento para a Nova Baía de Tokio. A pré-fabricação
era considerada a solução paradigmática para problemas de grandes escalas, e a elaboração de sistemas de ampliação utilizando adições sucessivas de componentes celulares geriu todo um imaginário de concepção projetual para uma grande parte dos arquitetos. O conceito "metabolista" considerava que edifícios e espaços urbanos estariam sujeitos às mesmas lógicas do crescimento natural e biológico que agenciavam os organismos vivos.

Características da condição urbana daquele momento histórico pós-Segunda-Guerra incluiam a recuperação econômica e a rápida modernização e capitalização das grandes cidades e um processo de reação à ineficácia dos métodos de planejamento urbano tradicional diante da caoticidade dos sistemas urbanos. Novos esforços deram origem a novos métodos emergenciais que buscavam resolver problemas extremamente complexos utilizando métodos sistemáticos de desenho. Sob uma influência do pensamento emergente pós-moderno, encontramos traços de uma abertura participativa e de valorização individual manifesta no desejo de oferecer, através destes métodos sistemáticos, a possibilidade de que cada indivíduo pudesse criar sua própria habitação de acordo com o seu gosto e capacidade econômica. Princípios do metabolismo em organismos vivos, como os ciclos de vida e adaptação, eram recuperados e reinseridos numa nova perspectiva projetual fundada na modulação estrutural como mecanismo de potencialização do crescimento, expansão, retrações e transformação do organismo urbano.

Autores consideram ter havido, em função da proximidade entre Kenzo Tange e Le Corbusier, uma transferência de influências deste último e paralelamente da ideologia do Estilo Internacional para os arquitetos Metabolistas. Não resta dúvida de que projetos do arquiteto suíço no Japão como o Museu de Arte Moderna de Tokio se tornou uma grande referências para a arquitetura japonesa. No entanto, percebemos que os projetos metabolistas possuem um expressionismo formal mais acentuado, desdobrando em um tipo de arquitetura que exalta o protagonismo da estrutura enquanto linguagem construtiva. É possível considerar um relativo distanciamento das obras japonesas do metabolismo diante do modernismo europeu, principalmente levando em conta a interpenetração de conceitos da arquitetura moderna com elementos da cultura tradicional japonesa. As soluções geométricas japonesas eram mais declaradas e dotadas de uma proposta de ordenação estrutural muito mais rigorosa. Apesar da influência da cultura ocidental no oriente, seja na economia ou nos hábitos locais, os projetos japoneses avançaram no que se refere a uma visão mais dinâmica de sociedade, operada por mecanismos capazes de gerenciar o constante desenvolvimento, evolução e mutação dos sistemas sociais e urbanos. Havia propostas para cidades oceânicas, aéreas e suspensas, com unidades diferenciadas para a alocação de residências, espaços produtivos que incluiam a agricultura, indústrias, centros comerciais e de serviços.

Alguns dos principais arquitetos deste movimento eram: Kiyonori Kikutake, Kisho Kurokawa, Masato Otaka, Fumihico Maki e Noburu Kawazoe. Não seria exagero considerar que o Metabolismo foi um dos momentos mais relevantes na evolução da arquitetura japonesa do século XX, notadamente em função da elaboração de projetos que articulavam problemas complexos através de uma apropriação tecnológica surpreendente. Devemos pontuar que havia simultaneamente uma tecnolatria exagerada e uma crença exacerbada em um tipo de revolução tecnológica que suportaria a demanda pelo planejamento sistemático, oferecendo respostas práticas para questões energéticas, pelo crescimento continuo e ordenado. Arata Isozaki desenvolveu uma repertório teórico importante voltado para a quanto a concepção de mega-estruturas transformáveis, e deve ser considerado como uma das importantes referências para o entendimento do movimento Metabolista observado a partir de suas propostas projetuais.

 

A Exposição Universal de Osaka em 1970 foi um evento crucial para dar mais visibilidade para o pensamento e as propostas Metabolistas. O Pavilhão Japonês concentrou seus esforços em apresentar à comunidade internacional possíveis soluções arquitetônicas para a resolução de problemas complexos de projeto tendo em vista a aplicação de processos sistemáticos de planejamento. O pavilhão japonês consistia em uma grande infraestrutura articulada elaborada como um experimento prático ou um protótipo de racionalização de componentes projetuais vinculados à eficiência funcional e logística. Era composto por grelhas treliçadas obtidas com juntas articuladas e tubos de aço pré-fabricados rapidamente encaixáveis. Foi uma das primeiras e mais significativas expressões do ímpeto da modernização japonesa. A Exposição Universal de Osaka pode ser considerada, assim como outras exposições do mesmo gênero, como um mostruário de tipologias formais alternativas geradas pelas novas tecnologias construtivas tais como: coberturas gigantes, balões infláveis, edifícios escalonados, pirâmides de cristal, etc.

Outro importante projeto da arquitetura Metabolista japonesa que cabe destacar aqui em nossa breve passagem pelos princípios e ideais deste movimento, é o Plano de Crescimento da Baía de Tokio elaborado por Arata Isozaki em 1960. Foi uma das grandes propostas de intervenção urbana realizada pós-Segunda-Guerra, na qual alguns autores identificam uma relação direta com a Ville Radieuse de Corbusier (proposta em 1934), um dos últimos projetos de planejamento urbano utópico da era moderna. Naquela época, a área compreendida pelas cidades de Tokio e Yokohama já possuia uma impressionante população de 13,5 milhões de habitantes. Neste projeto, um grande eixo cívico suspenso sobre a água ordenava a distribuição das atividades. Nele seriam implantados núcleos residenciais verticais autônomos. Assim como a Ville Radieuse, o Plano Obus para a cidade de Argel, elaborado por Le Corbusier, é também identificado como um antecedente importante ao Plano da Baía de Tokio. Novos modelos de assentamento urbano foram propostos, desenhados de forma a se fundir em um organismo unitário de escala urbana enorme, revelando sim a megalomania da influência de Le Corbusier nesta fase da arquitetura japonesa.

Outros projetos que merecem destaque no movimento da arquitetura Metabolista, e que talvez possa ser do interesse de quem pretende aprofundar no tema, é a torre Takara Beautilion de Kisho Kurokawa. Nesta torre de apartamentos uma mesma unidade habitacional repete-se com um padrão curiosamente distribuído, assemelhado a um conjunto de células de um organismo vivo, reforçando o desejo de modularidade e organicidade projetual. Seguindo uma linguagem semelhante, outro projeto referencial é a Torre Nagakim, construída em Tokio entre 1971 e 1972. Nesta torre foi realizada a aplicação prática da lógica de agregação celular a partir de estruturas pré-fabricadas. Kisho Kurokawa, idealizador do projeto inspirou-se em princípios biológicos de conexão e permutação para refletir sobre as qualidades e possibilidades combinatórias de "células habitacionais".

 

Referências Bibliográficas:

BRUNA, Paulo J. V. Arquitetura, Industrialização e desenvolvimento. Ed. Perspectiva. 1a edição, 2000.
_ GROPIUS, Walter. Bauhaus: Novarquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1988
_ LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1988
_ MONTANER, Joseph. Depois do Movimento Moderno. Arquitetura da segunda metade do século XX. Ed. Gustavo Gili Port. 1a edição, 2002.
_ JENCKS, Charles. Movimentos Modernos em Arquitetura. Lisboa, Portugal. Edições 70, 1985
_ ARANTES, Otília B., O lugar da arquitetura depois dos modernos. Ed. EDUSP. 2a edição, 1995
_ FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
_ CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
_ COLLINS, Peter. Los Ideales de la Arquitectura Moderna. Ed. Gustavo Gilli. 1a edição, 1998.
_ FRAMPTON, Kenneth. Studies in Tectonic Culture – The Poetics of Construction in the Nineteenth and twentieth Century Architecture. The MIT Press 2a edição, 1996.
_ MASCARÓ, Lucia. Tecnologia e Arquitetura. ed. Studio Nobel. 1a edição, 1990.