Este texto foi produzido utilizando referências o livro "Tecnologia e Arquitetura", organizado por Lúcia Mascaró pela editora Nobel de São Paulo. O artigo analisado é de Nelson Solano Vianna. Neste artigo,
o autor aponta para pontos de relações mais amplas entre
a arquitetura e tecnologia, afirmando seguidamente que
deve-se estabelecer uma relação próxima entre as
condições sociais e o momento histórico em questão
para contextualizar quaisquer análises. Comenta sobre a impossilidade
de desassociar o desenvolvimento científico e tecnológico
dos fatores econômicos, sociais, culturais e políticos
que, com a Revolução Industrial, adquirem ainda maior importância.
Muitas outros aspectos e conceitos também estão diretamente
amalgamados ao desenvolvimento tecnológico ou à sua ausência tais como:
> o graus desenvolvimento da ciência e das técnicas, notadamente o tipo de sistema produtivo;
> o nível de desenvolvimento tecnológico aplicado e
grau de desenvolvimento da sociedade brasileira, relevando o tipo de sistema econômico, a
disponibilidade de recursos energéticos, etc.
Considerando estas implicações entre outras, torna-se possível
pensar quais os reflexos da tecnologia no contexto urbano e habitacional
e então refletir sobre o tipo de arquitetura mais coerente com
todo este sistema.
Vários outros autores são citados para aprofundar nas
definições de tecnologia: Willian Ogburn, que considera-a
"um dos 3 ambientes que circundam o homem: natural, social,
tecnológico e as relações de interdependência
entre eles, bem como as alterações e transformações
relacionais"; numa visão mais tecnicista Eduardo Vittoria
define tecnologia como uma "ciência puramente descritiva,
de aplicações práticas, e que pode assumir aspectos
metodológicos que estabelecem condições de possibilidade".
Além disso, a tecnologia seria "intermediária
entre a ciência e a industria, baseada no estudo de procedimentos
mecânicos e um meio para atividade produtiva. Ou seja,
um poder-fazer técnico, destinado a transformar as formas existentes
de práxis social, seus modelos de organização e
intervenção diversos, flexíveis e substituíveis".
Segundo Giorgio Boada, "estudo dos materiais, máquinas
e procedimentos necessários para obter produtos industrias de
características definidas". Finalmente Donald Schon
considera-a "um instrumento ou uma técnica, um produto
ou um processo, um equipamento material ou um método de fazer
ou construir qualquer coisa que estenda as capacidade do homem".
Mais do que uma ciência puramente descritiva, a tecnologia tem efeitos diretos sobre a organização e a distribuição
da sociedade, com considerável influência potencial sobre
os sistemas sociais, econômico, infraestruturais, etc. Portanto,
pode também ser entendida como uma metodologia, um conjunto de
conhecimentos aplicados ou um instrumental de organização
e transformação de matéria, energia, habitat, capaz
de modificar as próprias condições de existência
do homem.
Se por um lado consideramos enquanto técnica uma disciplina
associada à capacidade prática de se operar para obter
um produto a priori, temos do outro a tecnologia como o momento operativo
da técnica, que descreve criticamente os processos de obtenção
mais do que simplesmente suas condições de emprego.
O autor utiliza a metáfora do hard e soft para
confrontar técnica e tecnologia. De um lado, o hard ou hardware
tem uma conotação meramente atuativa e mecanicista dos
processos, e está associado à um tipo de tecnologia material,
ou utensílio, o soft ou software relaciona-se com
processos, procedimentos de caráter decididamente não
material, mas operações informativas relativas à
direção dos processos de informação-decisão.
Mas existe
a possibilidade de afirmação de uma relação
de causa-efeito entre o desenvolvimento tecnológico e o sistema
econômico vigente? Segundo o autor, a complexidade de relações
de uma sociedade impede a determinação do que é
causa e do que é efeito, pois fazem parte de um processo interativo
de constantes transformações. Seria a tecnologia um meio
de dominação? Sabemos que habitamos um planeta no qual
as sociedades estão socialmente muito divididas e que existe
um regime de dependência entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. A tecnologia permeia estas relações, mas não possui
vontade própria, caminha atachada às decisões políticas
e principalmente econômicas, e em muitos casos pode sim ser um
elemento de separação e exclusão. A política guia as diretrizes econômicas e tecnológicas
numa relação entre o estado e o sistema produtivo industrial.
O Estado se baseia nos produtos da indústria e esta da ajuda
financeira por parte do Estado. O autor alerta para a necessidade de se evitar considerar a tecnologia
como um instrumento politicamente neutro.
|
Com a Revolução
Industrial, o processo de industrialização trouxe uma
série de efeito humanos e ambientais, que nos permite hoje reavaliar
a idéia inicial de que a industrialização fosse
um meio para se atingir a igualdade e o progresso social. Muitos aspectos
de exploração surgem de um sistema econômico capitalista
industrial. Através de uma visão
crítica do conceito de progresso tecnológico, a tecnologia
dirigida para a eliminação de contradições
sociais é totalmente desprovido de conteúdos reais, haja
vista atecnologia atual de comunicação restrita a poucos.
A ideologia
industrial de "modernização, progresso evida melhor
e mais sadia para todos" pode ser pensada também sob o viés
de um instrumento
de uma política autoritária e exploratória. Sendo
assim, os efeitos
negativos da tecnologia não são devidos à ela,
mas ao uso que se faz dela, a objetivos econômicos e políticos
predeterminados. Podemos afirmar que as
tecnologia desenvolvidas em um momento histórico estão
relacionadas ou são as que mais se adaptam às condições
econômicas vigentes e, no caso da ótica da produção,
tentarão sempre minimizar os custos e maximizar a eficiência. A
natureza complexa das exigências humanas não está
somente condicionada por fatores econômicos. No caso dos setores
produtivos o interesse é claro no aumento da produtividade e
lucro empresarial.
Segundo
as regras de mercado, a tecnologia pretende satisfazer as necessidades
de um usuário, e é colocada a serviço daqueles
que pretendem provocar as necessidades. No entanto, sua evolução
bloqueia no momento em que o capital não reconhece mais seu efetivo
interesse. É a lei.
Um modelo
determinista, segundo o autor, tentaria explicar as transformações
tecnológicas usando causas e efeitos rigidamente definidas. Um
modelo alternativo de interpretação das relações
tecnologia/sociedade baseia-se num processo interativo, de interferência
e interdependência entre as duas variáveis. Uma combinação
histórica particular de fatores econômicos, políticos,
ideológicos e culturais que determinam os critérios segundo
os quais são efetuadas as transformações tecnológicas.
Tecnologia
e Arquitetura
Seria a
tecnologia um sistema que media a relação entre homem
e natureza? Etimologicamente, a tecnologia origina-se do téchne+logos,
a ciência dos processos de transformação, verificados
na ordem das coisas e por extensão na ordem das idéias.
A tecnologia opera na ordem das idéias, que no caso do
processo projetual, seria o modo ou o método de idealização
associado à finalidade de produção, um processo
interativo com influências recíprocas. Num processo tecnológico,
ocorrem constantes situacões de incerteza, a concatenação
de variáveis de diversas ordens, interagindo continuamente entre
si. De fato, envolve processos abertos e dinâmicos, no qual a
técnica construtiva não se torna mais suporte, mas substancia
das verdadeiras opções projetuais. Portanto, torna-se
necessário a evolução do conceito de como se opera para o conceito de por que se opera. O projeto como
um momento onde se verificam as operações de tomadas de
decisão, e que possui mecanismos operadores compostos por variáveis
de entrada (requisitosa que o objeto deve responder e os dados do contexto)
e variáveis de saída (o projeto: resultados das operações
realizadas pelo operador).
Projeto
é tecnologia.
______________________________________________
Referências Bibliográficas:
. MASCARÓ, Lucia. Tecnologia e Arquitetura. ed. Studio Nobel. 1a edição, 1990.
|