1- A Arquitetura de Mies van der Rohe
As idéias arquiteturais de Mies eram fundamentadas nos princípios da construção: limpidez construtiva
absoluta. A arquitetura deveria estar baseada nos ditames da construção. Forte influência de Viollet Le-Duc e sua expressão honesta e adequada dos materiais
derivados dos métodos da época. Estética era sinônimo de uma estrutura bem estudada.
Mies não interessava-se pela invenção de formas arbitrárias,
recusava-se a copiar motivos históricos ou criar formas que não fossem
motivadas pela construção. Oposição direta à imitação dos estilos do
passado; as técnicas que se traduzem claramente nos materiais empregados é o objetivo primordial. Os ornamentos deveriam ser banidos, em busca de uma expressão rigorosa da construção. Tinha a arquitetura como instâncias promotora de idéias. Vem dele uma nova acentuação do sistema construtivo,
mais do que uma busca por formas originais. Para Mies "a arquitetura autêntica
é aquela que expressa a sua época, ou seja as condições da economia moderna,
as conquistas das ciências naturais e da técnica, aglomeração das massas
humanas, etc. Passou por algumas experiências norte-americana pós 50's, construíndo pavilhões e arranha-céus, normalmente prismas envidraçados.
Com relação aos seus projetos, tinham como principais conceitos envolvidos: precisão, regularidade,
ordem, sinceridade, rigor, beleza, cristalinidade. Ambicionava o Espaço
universal: um aestrutura espacial, como um pavilhão, capaz de aceitar quase
todo tipo de função. Este era seu principal paradigma, funcionalista. O projeto do Pavilhão de
Exposição de Barcelona (1929) retoma um novo gênero construtivo baseado na precisão e
regularidade. No Seagram Building, Nova York (1954-58), lemos um prisma
perfeito, monolítico, cua fachada aporesenta finos montantes e lâminas de vidro.
Para Mies, os princípios
de formação do arquiteto deveriam conter necessariamente a responsabilidade social no exercício da profissão. Segundo ele, para que o
ensino da arquitetura tenha sentido, é preciso que evolua gradativamente
do domínio das necessidades práticas ao domínio da criação artística.
Cada construção deve apresentar vantagens particulares e a utilizar
materiais tirando o melhor partido de suas qualidades especificas.
Abaixo, transcrita, uma carta
enviada ao Dr. Riezler, editor da Werkbund Journal Die Form, em 1927, intitulada On form in
architecture.
"Eu não me
oponho à forma, somente quando ela é a única meta.
E eu faço isso
como resultado de uma série de experiências e as introspecções que
obtive a partir delas.
A forma
como objetivo sempre termina em formalismos.
Para esse esforço não se
relaciona com o interior, somente com o exterior.
Mas somente um
interior vívido possui um exterior também vívido.
Somente a
intensidade da vida possui intensidade de forma
Todo Como é
sustentado por um Porque.
O sem-forma não é pior que o
super-formado.
O anterior não é nada, o último é apenas
aparência.
Forma real pressupõe vida real.
Mas não algo que já
existiu, nem algo já pensado.
Aqui
repousa o critério
Nós não
avaliamos o resultado mas o ponto de partida de um processo
criativo.
Precisamente isto mostra se a forma foi descoberta partindo
da vida, ou de sua própria causa.
Isso é a
razão que eu considero o processo criativo tão essencial.
A vivência
(life) é para nós o fator decisivo
Em toda a sua completude, em seus
compromissos reais e espirituais.
Não é uma
das tarefas mais importantes do Werkbund a serem esclarecidas, a se
tornarem visíveis, as situações reais e espirituais nas quais nós nos
encontramos, ordenar suas correntes e desse modo avançar ?
Não
deveríamos deixar tudo nas mãos dos poderes criativos ?"
The New Era
(1930)
"A nova era
é um fato; ela existe totalmente independente do fato de nós dizermos
sim ou não. Isso não e melhor nem pior do que nenhuma outra era. É
apenas uma corrente e por si só neutra de valores. Entretanto não vou me
reter muito tentando elucidar a nova era, demonstrar suas conexões.
Não vamos superestimar a questão da mecanização, estandardização e
normatização.
E vamos aceitar as modificações econômicas como um
fato.
Todas estas coisas vão em seus caminhos destinados, cegos de
valores.
Que nós produzimos mercadorias e por quais meios nos as
manufaturamos não significa nada, espiritualmente falando.
Se nós
construímos alto ou baixo, com ferro ou vidro, não nos diz nada sobre o
valor da edificação.
Se no planejamento urbano nosso alvo é a
centralização ou descentralização é uma questão prática, não de valores.
Mas precisamente a questão de valores é decisiva
Devemos
estabelecer novos valores, para demonstrar alvos definitivos, de forma a
adquirirmos critérios.
Para a significação de cada era, incluindo a
nossa, consiste somente em promover o espírito com os pré-requisitos
para sua existência".
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2- Conceitos para uma Cidade Contemporânea por Le Corbusier
Neste livro Urbanismo o arquiteto apresenta conceitos e argumentos para se projetar uma cidade de três milhões de habitantes
(1922) que em termos gerais deveria atender: aos seres humanos, ao espírito, às sensações.
Partindo de
um terreno ideal, uma cidade deve ser executada desde seu início, excluindo
assim situações pré-existentes. Comenta sobre a falta de princípios
fundamentais de urbanismo moderno.
TERRENO: "plano é o ideal; com
relação ao trânsito fornece soluções normais. O rio passa longe,
estrada de ferro sobre a água. Numa casa bem administrada, a escada de
serviço não atravessa a sala de visita".
POPULAÇÃO: subdivididos como se era de esperar
"A) urbanos: tem
negócios e moram no centro.
B) suburbanos: trabalham na periferia e
moram na cidade-jardim.
C) mistos: trabalham no centro e moram na
cidade-jardim.
Classificar é resolver habilmente o problema do
urbanismo, determinar as delimitações, fixar-lhes extensões e resolver o
problema.
A cidade deve ser um órgão denso, rápido, ágil, concentrado".
DENSIDADES: Segundo ele, quanto maior as densidades, menores as distâncias a serem
percorridas, propondo assim aumentar a densidade do centro.
PULMÃO: "O trabalho
moderno exige a calma, o ar salubre. O aumento da densidade aumenta as
áreas arborizadas". Defende assim a construção do centro verticalmente
A RUA: "é um
organismo novo, canalizações devem ser acessíveis, uma obra-prima da engenharia
civil".
O TRÂNSITO: "deve ser classificado: caminhões de carga
(subsolo), veículos de passeio, veículos rápidos e 03 níveis de ruas. A)
SUBSOLO: serviços, B) TÈRREO: imóveis e veículos leves. C) PASSARELAS:
40 a 60 metros, poucos cruzamentos e altas velocidades. Diminuição
drástica do número de cruzamentos: "inimigos do trânsito", de 400 em 400
metros. Sistemas tríplice de ruas sobrepostas. O bonde deve ser
eliminado".
Todas estas considerações do arquiteto apontam para a adoção da idéia de um usuário-tipo. Aos poucos, movimentos posteriores iniciaram uma revisão deste ideal, propondo uma visão de
homem como usuário variável.
3- Do homem
ideal ao homem comum
No Movimento Moderno o usuário ideal para a arquitetura levar em conta era aquele puro,
perfeito, genético, total, capaz de viver em espaços racionalizados,
perfeitos, configurados a partir de formas simples. Modulor, apesar de ser considerado por Le Corbusier um corretor de proporações, era entendido por muitos como uma proposta onde todos os
homens teria as mesmas funções e necessidades.
A partir dos anos 50 seguem-se uma série de idéias difusas a respeito da continuidade da arquitetura moderna.
O Estilo
Internaciona buscou a expressão de um método que tentou estabelecer novas e
mais claras relações entre conteúdos e formas, via uma arquitetura elaborada a
partir de propostas racionalistas. Vários países como França, Alemanha, Inglaterra,
Holanda, Japão, EUA adotaram este estilo e geraram a integração dos volumes puros da arquitetura
moderna dentro da cidade. Exemplos:
Walter Gropius: Torre Pan-Am
(1963)
Philip Johnson: Casa de Vidro, Connecticut (1950)
Skidmore,
Owings, Merril: Lever House (1951)
Alemanha: Paul Seitz, Hans Mauer,
Hans Sharoun. Repertório de formas estritamente funcionais, transparentes, baseadas na
repetição e na simplicidade.
Ao mesmo
tempo era visível a explosão de novas propostas formais com abordagens mais existencialistas, numa tentativa de aproximar-se dos gostos individuais. Atenção voltada à cultura material, à diversidade
cultural, pré-existências ambientais, tradição, etc. Essa contracorrente defendia um usuário real, concreto,
individual, sujeito do materialismo realista (Jean Paul Sartre).
Havia uma necessidade de recuperar as qualidades humanas do contraste, variedade e
individualidade. Este homem concreto e imperfeito, de certa forma comum, de rua podia ser observado nos trabalhos dos fotógrafos Henry
Cartier-Bresson e Nigel Herderson.
Bibliografia:
. BLASER,
Werner. Mies van der Rohe. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
. CONRADS, Ulrich. Programs and manifestoes on 20th century
architecture. Cambridge: The MIT Press, 1971.
. CORBUSIER,
Le. Urbanismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
. MONTANER,
Joseph. Depois do movimento moderno. Barcelona: Gustavo Gilli,
2001.
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